Ultraprocessados já representam 23% da dieta no Brasil e consumo cresceu em 91 de 93 países

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Ultraprocessados já representam 23% da dieta no Brasil e consumo cresceu em 91 de 93 países

 Estudo global liderado por pesquisadores da USP mostra que o consumo dobrou entre brasileiros desde os anos 80, impulsionado por grandes corporações e estratégias agressivas de marketing.

         
Reuters/Pilar Olivares/Direitos Reservados


O consumo de ultraprocessados na alimentação dos brasileiros mais que dobrou desde a década de 80, saltando de 10% para 23% do total da dieta. O alerta faz parte de uma série de artigos publicados nesta terça-feira (18) na revista Lancet, fruto de um trabalho liderado por mais de 40 cientistas, com destaque para pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).

O levantamento global revela que o Brasil não é um caso isolado. Dados de 93 países mostram que o consumo de ultraprocessados aumentou em 91 deles. O Reino Unido foi a única exceção, mantendo o consumo estável em 50%. Já os Estados Unidos, com mais de 60% da dieta composta por esses produtos, lideram o ranking.

Carlos Monteiro, pesquisador do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e líder do trabalho, ressalta que essa mudança na alimentação é impulsionada por interesses comerciais:

“Essa mudança na forma como as pessoas se alimentam é impulsionada por grandes corporações globais, que obtêm lucros extraordinários priorizando produtos ultraprocessados, apoiadas por fortes estratégias de marketing e lobby político”, alertou o cientista.

Crescimento Global e Riscos à Saúde

O consumo triplicou em países como Espanha e Coreia do Norte. O aumento é percebido em nações de baixa, média e alta renda, sendo que nas nações mais pobres, as altas foram as mais expressivas. O consumo crescente espelha um padrão que começou nas classes de maior renda e se disseminou para outros públicos.

A série de artigos reforça a relação direta entre dietas ricas em ultraprocessados e o aumento global da obesidade e de doenças crônicas como diabetes tipo 2, câncer colorretal e doenças cardiovasculares.

Os pesquisadores fizeram uma revisão de 104 estudos de longo prazo, e 92 deles relataram risco aumentado de uma ou mais doenças crônicas. O consenso é que a substituição de padrões alimentares tradicionais por ultraprocessados é um fator central no aumento da carga de múltiplas doenças crônicas.

Recomendações e Políticas Públicas

Os cientistas defendem que a responsabilidade pelo aumento do consumo não é individual, mas das grandes corporações, cujas vendas anuais globais de ultraprocessados chegam a US$ 1,9 trilhão.

Entre as recomendações propostas para diminuir o consumo, estão:

Sinalização em Embalagens: Exigir que aditivos, como corantes e aromatizantes, e o excesso de gordura, sal e açúcar sejam sinalizados de forma clara nas embalagens.

Restrições em Locais Públicos: Proibir a venda desses produtos em instituições públicas, como escolas e hospitais. O Brasil é citado como exemplo positivo por conta do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Sobretaxação: Sugerir a sobretaxação de determinados ultraprocessados para financiar o aumento da disponibilidade de alimentos frescos para famílias de baixa renda.

A pesquisa enfatiza que, embora os estudos sobre os efeitos na saúde continuem, as políticas de saúde pública para promover dietas baseadas em alimentos integrais e seu preparo “já estão atrasadas”.

Por Tâmara Freire - Repórter da Agência Brasil - 20

da redação FM

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