Fronteira Cerrado: expansão do agro no coração hídrico do Brasil

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Fronteira Cerrado: expansão do agro no coração hídrico do Brasil

 Expansão da fronteira agrícola no Matopiba impulsiona desmatamento e coloca em risco a segurança hídrica na região, que abriga nascentes cruciais.


       © Fernando Frazão/Agência Brasil



O município de Balsas, localizado no extremo sul do Maranhão, tornou-se um dos focos da expansão agropecuária no Brasil. Essa expansão, no entanto, tem sido ligada ao aumento do desmatamento do Cerrado, bioma vital para a segurança hídrica do país. A cidade foi o segundo município que mais desmatou no Brasil nos últimos dois anos.


Balsas faz parte da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), área que concentrou 75% do desmatamento do Cerrado em 2024, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2024) do MapBiomas.

Apesar da queda de 56% no desmatamento em Balsas em 2024, a supressão de vegetação nativa no município ainda é alta, chegando a 16 mil hectares no ano. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que o desmatamento na cidade aumentou 30% entre agosto de 2024 e julho de 2025.

O Maranhão foi o estado que mais suprimiu vegetação nativa no Brasil pelo segundo ano consecutivo.

Nascentes em Risco e Crise Hídrica Silenciosa

Balsas é o berço das nascentes da Bacia do Rio Parnaíba, a segunda mais importante do Nordeste, o que torna a expansão agrícola local uma preocupação para o equilíbrio hidrológico.

O geógrafo Ronaldo Barros Sodré, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), avalia que está em curso uma crise hídrica silenciosa na região. Estudos confirmam a percepção dos moradores e pesquisadores.

O hidrólogo do Serviço Geológico Brasileiro (SGB), Cláudio Damasceno, aponta que a vazão dos rios Parnaíba e Balsas apresenta uma tendência de diminuição sustentada desde a década de 1970. Um estudo da Ambiental Media, com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), calculou que a Bacia do Parnaíba perdeu 24% da sua vazão média em 40 anos.

Nas comunidades tradicionais do Alto Gerais de Balsas, como no Vão do Uruçu, o agricultor familiar José Carlos dos Santos, de 52 anos, e outros moradores relatam o sumiço das águas. Zé Carlos mostrou à reportagem que uma das principais nascentes do Rio Balsas agora só verte água no período da chuva, ficando seca no restante do ano.

Conflito de Desenvolvimento

O agronegócio impulsionou Balsas ao terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão. Em agosto, a maior biorrefinaria de etanol de milho da América Latina foi inaugurada na cidade, atraindo novos negócios. O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Balsas (Sindi Balsas), Airton Zamingnan, defende que o desenvolvimento econômico e social trazido pela agricultura supera os “pequenos” prejuízos ambientais.

Em contrapartida, a presidente da Associação Camponesa (ACA) do Maranhão, Francisca Vieira Paz, classifica o agronegócio como uma “ilusão de desenvolvimento” que não é sustentável. O bispo da Diocese de Balsas, Dom Valentim de Menezes, também narra o histórico de conflitos na região e critica o modelo excludente de progresso.

O fazendeiro Paulo Antônio Rickli, que chegou à região em 1995, lamenta que “passou a boiada” na preservação do Cerrado após 2018, e critica a falta de rigor na fiscalização das autorizações de desmatamento.

A Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão informou que toda a legislação é respeitada e que as autorizações de supressão de vegetação são realizadas de forma técnica. O secretário municipal de Meio Ambiente de Balsas, Maria Regina Polo, reconhece o receio de que, a médio e longo prazo, o problema hídrico se torne grave.

Por Lucas Pordeus León* – enviado especial - 20

da redação FM


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