Em meio às compras de fim de ano, gestos seguem sendo os presentes que mais marcam a memória afetiva das famílias
O Natal costuma ser medido em listas, vitrines e prazos de entrega. Ainda assim, quando a data termina, o que permanece raramente cabe em embrulhos. O que fica são gestos que não passaram pelo caixa, como o tempo oferecido sem pressa, a palavra dita com cuidado, o silêncio respeitoso, o pedido de perdão feito fora do roteiro.
Há presentes que não exigem orçamento, mas exigem disposição. Afeto não se compra, mas se pratica. Ele aparece no olhar atento, na escuta sem interrupções, no abraço que não resolve tudo, mas sustenta. Em famílias atravessadas por rotinas intensas, oferecer presença real tornou-se um dos gestos mais raros e, por isso mesmo, mais valiosos.
O tempo, quando doado de forma intencional, também se converte em presente. Não se trata de quantidade, mas de qualidade, de sentar-se à mesa sem o celular, caminhar juntos, ouvir histórias repetidas. São experiências simples, mas que comunicam pertencimento e cuidado de forma profunda.
Palavras que ficam
O perdão talvez seja o presente mais difícil de oferecer, é o que expressa o reverendo Hernandes Dias Lopes. Segundo o pastor, ele não apaga feridas nem reescreve o passado, mas interrompe ciclos de distanciamento. Hernandes lembra que “o perdão é maior do que o ódio. O perdão cura, liberta e restaura. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração”. Em datas simbólicas como o Natal, esse gesto ganha ainda mais peso, sobretudo em lares marcados por silêncios prolongados.
A reconciliação, quando possível, também se apresenta como um presente silencioso. Não nasce de improviso nem de frases prontas, mas de movimentos conscientes. Reverendo Hernandes observa que “a reconciliação só pode acontecer quando há confissão de pecados, arrependimento sincero e disposição real de reconstruir a confiança e a intimidade”. Mesmo quando não é plena, qualquer aproximação honesta já carrega um valor que nenhum objeto substitui.
Há ainda o valor das palavras escritas. Cartas, bilhetes e mensagens pensadas com calma resistem ao tempo de um jeito que mensagens instantâneas não conseguem, exemplifica Hernandes. Quando alguém escreve, organiza sentimentos, escolhe palavras e deixa registrado algo que pode ser relido. É um presente que permanece quando a data passa.
O Natal cristão nasce da lógica do dom, não da troca. Ao refletir sobre a data, Hernandes afirma que “o Rei se fez servo, veio não para ser servido, mas para servir”. Celebrar esse tempo sem reduzir seu sentido passa, muitas vezes, por devolver centralidade ao que não se compra. Afeto, tempo, perdão, reconciliação e palavras sinceras não aparecem nas vitrines, mas continuam sendo os presentes mais duradouros que uma família pode oferecer uns aos outros e a si mesma.
Comunhão
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