Lei fraca propicia clima de leilão em pesquisas eleitorais: 'Quem quer comprar? Adquira já o primeiro lugar!'

Lei fraca propicia clima de leilão em pesquisas eleitorais: 'Quem quer comprar? Adquira já o primeiro lugar!'

                                                                             EDITORIAL 


 Quando sondagens desconexas se transformam em mercadoria, o eleitor vira refém do acaso e da                                           imprudência legal As informações são do site Rondônia Dinâmica.




Porto Velho, RO – A recente sucessão de estudos eleitorais em Rondônia apresenta um espetáculo desconcertante: resultados tão díspares entre si que subvertem a lógica mínima de coerência estatística e política. Ao se confrontarem os levantamentos hoje disponíveis para as disputas ao Senado e para o Governo do Estado, surge um padrão inquietante: atuações feitas a toque de caixa, sem coordenação, sem critérios claros, e com a invisibilidade de qualquer temor de retaliação institucional. O ambiente regulatório permissivo — especialmente no período em que qualquer pesquisa pode ser divulgada livremente — opera como combustível desse mercado voraz de posições, na prática um leilão silencioso de intenções de voto. 


Em uma pesquisa estadual recente para o Senado, foi divulgado que o ex-governador Marcos Rocha lidera com 36,9% das intenções de voto, enquanto indecisos somam 22,7%. Mas o detalhe mais absurdo desse levantamento é a ausência do nome de Marcos Rogério, senador em exercício, pré-candidato à reeleição e figura de grande popularidade. É inconcebível que, em uma sondagem desse porte, um personagem central do cenário político sequer apareça listado, seja qual for a sua posição. A omissão destoa do bom senso e compromete de imediato a credibilidade do estudo. Em outro levantamento, por sua vez, é Fernando Máximo quem surge na dianteira, com 46,1% das intenções de voto, superando justamente Rocha, que aparece com 33,5%, e Silvia Cristina, com 31,6%. Dessa vez, Marcos Rogério figura com força competitiva, compondo o quadro. 

São números que se chocam. Como admitir que Máximo tenha 46,1% em um cenário e, no outro, Rocha figure em primeiro com 36,9%, enquanto Rogério simplesmente desaparece da disputa? Quando dois estudos sérios, publicados em prazos próximos, oferecem esse grau de contradição, não se trata apenas de divergência metodológica: é indício de que algo no processo está adulterado ou, no mínimo, descuidado. 

Na esfera do Governo de Rondônia, a anomalia se repete. Uma sondagem mostra Hildon Chaves liderando com apenas 18,7%, seguido por Confúcio Moura com 13,5% e Fernando Máximo com 9,1%. Em outra, Máximo aparece à frente, empatando tecnicamente em alguns cenários com adversários. Tais contrastes são incompatíveis com o que se espera de margens de erro razoáveis e estabilidade mínima entre estudos próximos no tempo. Em outras palavras, algo beira o absurdo.


A raiz dessa confusão está em parte no arcabouço legal brasileiro. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pesquisas eleitorais realizadas em ano eleitoral a partir de 1º de janeiro devem ser registradas no sistema PesqEle até cinco dias antes da divulgação pública. No entanto, fora do chamado período eleitoral formal, antes da vigência rigorosa da campanha, não existe obrigação de registro prévio para pesquisas ou sondagens. Em termos práticos, a divulgação de pesquisas fora do período eleitoral não necessita de registro no TSE. Esse vácuo legal cria uma janela aberta para que levantamentos sejam feitos e divulgados sem transparência e sem fiscalização efetiva.


É esse vazio regulatório que permite que candidatos ou grupos interessados “comprem” posições — não com votos, mas com a simples encomenda de levantamentos calibrados por conveniência, a serem divulgados estrategicamente. Não que tenha ocorrido nos exemplos citados, mas são situações que certamente correm o risco de ocorrer tamanha a libertinagem normativa. Sem medo de registro ou punição, o produto pesquisa se transforma em mercadoria vendida no balcão, pronta para ostentar lideranças e imprimir tendências — mesmo que inconsistentes.


O modo como essas sondagens são conduzidas e disseminadas passa a impressão de improviso: questionários sem padronização, amostras com abrangências restritas, entrevistados mal distribuídos geograficamente, margens de erro mal explicadas, omissão de nomes de contratantes, sem detalhamento da metodologia. Ao leitor-eleitor chega um festival de cifras desconexas: fulano lidera com 36,9%, ciclano tem 46,1%, hildon aparece com 18,7%. Cada qual em seu cenário, como se cada pesquisa vivesse em seu universo paralelo. Quando cruzamos os dados de Senado e de Governo, o descompasso persiste, contradiz e desconstrói a credibilidade do processo. Se essas sondagens fossem gasoduto, estaríamos diante de vazamentos em série.


Esse estado de bagunça regulatória não é mera curiosidade jornalística: ele atrapalha a vida do cidadão-eleitor, que passa a enxergar nas pesquisas menos um guia confiável e mais uma briga manipulada de números. Isso favorece a alienação, promove manipulação e gera resultados que, quando confrontados com a realidade das urnas, ampliam o descrédito no sistema democrático. Mais grave: essa pulverização de informações contraditórias pode comprometer a fluidez do processo eleitoral. Eleitores indecisos ou mal informados recebem sinais confusos e, diante disso, recuam em suas decisões — o que prejudica o debate público, distorce o jogo político e subverte o fundamento democrático.


Sem endurecer a lei no período de pré-campanha — para exigir registro obrigatório, metodologia transparente e responsabilização — esse mercado de pesquisas continuará operando como cassino de intenções, privilegiando quem sabe pagar mais e desconstruindo o valor da opinião pública. É urgente que o Legislativo e a Justiça Eleitoral revisitem essa permissividade. A pesquisa não pode virar jogo de apostas de campanha. Para que o eleitor não vire refém de números inconsistentes, é necessário que o direito à informação tenha mais força normativa e não fique à mercê do acaso ou da audácia de alguns.



 As informações são do site Rondônia Dinâmica.


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