A ação contra o Comando Vermelho deixou dois adolescentes, de 14 e 17 anos, entre os mortos, além de outros seis com menos de 20 anos, totalizando oito vítimas abaixo dessa faixa etária.
© Tomaz Silva/Agência Brasil
O balanço oficial de uma operação policial no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, evidenciou a letalidade jovem ao registrar pelo menos 121 mortos, incluindo civis e agentes de segurança. A ação contra o Comando Vermelho deixou dois adolescentes, de 14 e 17 anos, entre os mortos, além de outros seis com menos de 20 anos, totalizando oito vítimas abaixo dessa faixa etária.
Tragédia na comunidade atinge jovens
A lista de mortos, divulgada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, revelou a idade dos civis e continha anotações criminais e postagens em redes sociais que, segundo a polícia, indicavam ligação dos mortos com o tráfico de drogas. Pelo menos um em cada três assassinados era jovem, com até 25 anos.
A pessoa mais velha entre os mortos completaria 55 anos em 2025, no entanto, mais da metade tinha 30 anos ou menos.
Adolescentes eram frequentadores de bailes
O adolescente de 14 anos, morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi morto após ir a bailes nos complexos. O pai do menino, Samuel Peçanha, trabalhador de serviços gerais, relatou à Agência Brasil o sofrimento da família, que buscou o garoto na capital. Samuel contou que o filho saiu para os bailes e “simplesmente sumiu”.
“Eu falei com ele 8h40, e ele disse que ia vir”, lembrou Samuel, cobrando o retorno do filho para casa na manhã da ocorrência, antes de o telefone do garoto “se calar”. O jovem foi encontrado na mata, área de confronto com o Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A família do adolescente de 17 anos não foi localizada pela reportagem. O avô do jovem, que o criou como filho, lamentou em entrevista ao Jornal O Globo a perda para o crime, classificando a situação como “perder o filho duas vezes”.
Polícia minimiza falta de antecedentes criminais
Apesar de imprecisões na lista oficial, como o erro na data de nascimento de pelo menos um dos mortos (Yago Ravel, de 19 anos), a polícia incluiu supostas provas de ligação com o tráfico. Um dos jovens foi associado à facção Comando Vermelho por ter postado figurinhas vermelhas em redes sociais.
No entanto, os dois adolescentes assassinados foram flagrados em redes sociais posando ao lado de fuzis. O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, minimizou o fato de parte dos mortos não ter anotações criminais nem imagens portando armas. Curi defendeu que, se não tivessem reagido, teriam sido presos em flagrante por porte de armamentos e por crimes de organização criminosa, classificando-os como “narcoterroristas”.
Ativista culpa o racismo e a ausência do Estado
A ativista de direitos humanos e uma das fundadoras do Movimento Moleque, Mônica Cunha, criticou a alta incidência de jovens vítimas na operação, atribuindo a situação ao racismo estrutural. Segundo ela, o racismo retira investimentos públicos de áreas mais pobres e de políticas públicas que atenderiam a população negra, como saúde, educação e cultura.
“O Estado produz esses meninos para, quando matar, ter uma justificativa”, avaliou. Mônica Cunha argumenta que a ausência de oportunidades e a rejeição do Estado abrem portas para organizações criminosas, que oferecem um sentimento de pertencimento. A ativista define essa lógica como genocida, por eliminar oportunidades de vida digna e pelo alto número de mortes, afirmando que a sociedade perde seu futuro.
Por Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil - 20
da redação FM
