| Ação da Justiça Rápida Itinerante simboliza reparação histórica e valorização da identidade dos povos originários em Rolim de Moura do Guaporé |
Porto Velho, Rondônia — Um momento de emoção e significado marcou a comunidade indígena Wayuru, no distrito de Alta Floresta D’Oeste, durante a Operação Justiça Rápida Itinerante (JRI). Aos 85 anos, a anciã Maura Wayuru Ibanez, a mais velha do povo Wayuru, recebeu seu novo registro civil com a inclusão da etnia indígena, concretizando um sonho que atravessou gerações.
Com o documento em mãos, Maura simboliza a reparação de uma história marcada por apagamentos culturais desde o ciclo da borracha, quando indígenas perderam seus nomes e identidades originais. “Os seringalistas colocavam o nome deles no nosso povo, como uma forma de posse. Lutamos há muito tempo para ter de volta o nosso nome ancestral”, relatou Valda Wayuru Braga, filha de Maura e cacique do território Wayuru, às margens do rio Mequens.
“É triste que a minha avó morreu em 2000, com 105 anos, e não conseguiu realizar esse sonho. Hoje, sentimos que foi feita justiça”, completou, emocionada.
Justiça e identidade: cidadania para os povos originários
A iniciativa do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO), por meio da Justiça Rápida Itinerante (JRI Porto Rolim), atendeu cerca de 120 pessoas em diversas ações, incluindo guarda de menor, pensão alimentícia, divórcio e retificação de registros civis.
Entre os atendimentos, destacou-se também a história de Jorge Gomes Monteiro Sakurabiat Wayuru, que passou a carregar em seu nome as etnias dos pais, Sakurabiat e Wayuru. Sua esposa também alterou o registro civil, adotando o sobrenome do marido conforme a Resolução Conjunta CNJ e CNMP nº 3/2012, atualizada pela Resolução nº 12/2024.
Para o juiz Guilherme Ferreira, cada documento entregue representa mais que um ato administrativo:
“É uma reparação histórica. A inclusão do sobrenome indígena é cidadania, dignidade e identidade. Representa a presença do Estado, o reconhecimento da diversidade cultural e o sentimento de pertencimento de um povo à sua história.”
Valorização da língua e da cultura Wayuru
A ação também fortaleceu a preservação da língua Wayuru, um dos pilares da identidade do povo. Segundo Ana Délia Wayuru Braga, professora da língua materna, o trabalho de revitalização tem garantido que as novas gerações aprendam a falar e escrever o idioma.
“Resgatamos a nossa língua para que não morresse. Hoje, temos professoras ensinando nas escolas, e as crianças já nascem aprendendo a falar Wayuru. É um grande orgulho para o nosso povo.”
Corrigindo distorções e garantindo direitos
De acordo com a defensora pública Lúcia Pereira Bento Moreira, a operação também permitiu corrigir erros históricos nos documentos.
“Conseguimos incluir sobrenomes indígenas e ajustar letras que não respeitavam o alfabeto dos povos tradicionais. Essas correções devolvem dignidade e eliminam barreiras no acesso a direitos fundamentais.”
Na região, convivem três etnias principais — Sakurabiat, Wayuru e Guarasugwe — que uniram esforços para garantir o reconhecimento de suas origens nos registros oficiais.
da redação FM
