‘Liga pro Cesar Caleche e pede pra ele vir aqui… Cesar quem são as empresas que a gente pode mandar, só pra gente fechar isso…’
Quer dizer que, no esquema do fornecimento de alimentação para hospitais, o próprio Caleche escolhia quem iria concorrer com a Caleche. A contrato era emergencial. Michele está esperneando, mas vai para a cadeia
A ex-secretária executiva da Sesau, Michele Dahiane Dutra, movimentou um gigantesco esquema de corrupção. Ela era marionete do ex-chefe da Casa Civil, Júnior Gonçalves, considerado o maior ladrão de Rondônia. Documentos mostram uma pequena parte dos contratos fraudulentos mantidos pela organização criminosa.
Um desses contratos fraudulentos, que até hoje está em vigor, foi direcionado para o Grupo Caleche, que fornece alimentação para hospitais de Porto Velho, embolsando R$ 1,8 milhões por mês. Anteriormente o contrato era de R$ 1,3 milhões, demonstrando que esse esquema rende R$ 500 mil de propina, todo mês.
Um servidor de carreira da Sesau, que estava sendo perseguido pelo grupo da então secretária executiva Michele Dahiane, levou o telefone ao cartório para que houvesse uma degravação notarial mostrando como é o esquema montado por Júnior Gonçalves. O servidor temia ser penalizado, por receber ordens da organização criminosa. A degravação notarial mostra que não houve adulteração de mensagens no celular. As ordens dadas ao servidor mostram todo o esquema.
A secretária Administrativa da Sesau, à época, era Fernanda Ferreira de Oliveira Silva, fiel escudeira de Michele Dahiane. O blog já tinha mostrado há algum tempo parte do ocorrido. Após o escândalo, Fernanda foi exonerada e em seguida nomeada no Instituto de Pesos e Medidas (Ipem). O orcrim se protege.
Nesse trecho, Fernanda explica que, em caso de dispensa de licitação, é ela quem escolhe o fornecedor para a Sesau:
– Ali é uma dispensa de licitação, já tem um fornecedor que já está lá, certo? Eu tô regularizando aquele fornecedor. As dispensas de licitação eu escolho quem eu quero… essa garrafa o Rodrigo vai me fornecer, ele está me fornecendo ela a cem reais. Quanto que é lá, ah, Fernanda, cento e cinco, cento e dois. Maiara, quanto é? Até cento e dois ou cento e quatro eu faço. Tá fechado, Rodrigo, traz pra mim… – diz Fernanda.
Depois ela fala da empresa Caleche, que fornece comida para hospitais, e diz:
– … quem é que vai concorrer com Caleche? Chama o Clodinei, que não fica entrando para atropelar ninguém…” – prossegue.
Fernanda Silva estaria determinando que os preços fossem cotados com empresas que concordassem em manter como fornecedor as empresas que já tinham o contrato emergencial com a Sesau.
-…essa empresa, não. E você não precisa mandar pra 50 empresas, e você vai mandar pra três ou quatro empresinhas, só pra confirmar que é aquele preço, e que está dentro do preço de mercado, tá?… Qualquer coisa vocês podem justificar, é uma emergência, é uma determinação do Tribunal de Contas. Então acabou… é nesse sentido… o ideal era você falar com o César da Caleche… César, quem são umas empresas que a gente pode mandar pra gente fechar isso aqui, entendeu? Nesse caso é desse jeito que vai acontecer… agora, se a empresa não quer mais… aí eu mando pra cinco ou seis empresas que a gente tem potencial… mas nesse caso aí, não” – diz Fernanda.
A ex-gerente Administrativa determinava que os servidores falassem com os próprios fornecedores, para que os fornecedores indicassem para qual empresa deveria ser enviada a cotação de preços. Acima, ela diz que a ordem era da Michele. Ela também deixa claro que não era para dar publicidade às necessidades de contratação. Nesse caso, o próprio Grupo Caleche definia quais empresas concorreriam com o Grupo Caleche.
É bom lembrar que a comida oferecida pelo Grupo Caleche é uma porcaria. Poucos servidores da saúde têm coragem de comer. Eles trazem almoço de casa. Há alguns dias servidores fotografaram larvas de mosca nos marmitex entregues pelo Caleche
Atenção Polícia: é só ouvir os servidores que não pertencem à quadrilha, que eles contam tudo. Há gente da organização criminosa em muitos recantos da Sesau. Em Cacoal, por exemplo, existe mais contratos fraudulentos. Quem segura esses contratos “fanta”? Só pode ser gente da coordenação, envolvida com corrupção.