Caso seja aprovada sua indicação ao STF, que recebeu aval de religiosos, advogado-geral da União abre lacuna em diálogo com pastores
A decisão do presidente Lula de indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF) agradou o segmento evangélico, mas criou uma lacuna no governo no diálogo com lideranças religiosas. Desde o início do terceiro mandato do petista, Messias exerce o papel de porta-voz do Planalto em eventos religiosos, como a Marcha para Jesus, e tem sido uma das principais pontes do governo com a Frente Parlamentar Evangélica e com líderes de grandes igrejas, como a Assembleia de Deus.
Petistas já admitem que é difícil imaginar outro integrante de primeiro escalão ocupando esse espaço à altura, ainda que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também seja evangélica. Nos últimos meses, a primeira-dama Janja da Silva passou a frequentar encontros com lideranças evangélicas progressistas a partir de canais abertos pela Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e por parlamentares como a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), mas tratam-se de denominações menores e mais alinhadas ao campo político. Uma possibilidade aventada é a de não centralizar essa representação no meio evangélico em apenas um nome até o final do mandato.
Nos últimos três anos, foi Messias quem representou o governo na Marcha para Jesus de São Paulo, maior passeata evangélica do país e que costuma receber em seu palco sobretudo políticos da direita — o ex-presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) foram alguns dos que já discursaram nos eventos. Em 2023, primeiro ano do atual governo Lula, Messias chegou a ser vaiado no evento, mas retornou no ano seguinte. Em todas as ocasiões, foi ele o responsável por entregar aos líderes da Marcha, apóstolo Estevam Hernandes e bispa Sônia, da Renascer em Cristo, uma carta de Lula aos evangélicos.
Esse capital religioso também tem sido mobilizado por Messias para reduzir a resistência do Senado em aprová-lo para o STF. Há cerca de um mês, Messias e a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, articularam um encontro entre Lula e o bispo da Assembleia de Deus do Brás, Samuel Ferreira, acompanhado do deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP). Na semana passada, Messias foi à convenção nacional da igreja em São Paulo, onde abraçou o ministro do STF André Mendonça, evangélico indicado por Bolsonaro e que apoia sua nomeação à Corte.
Cezinha afirma desconhecer algum outro ministro capaz de ser o porta-voz de Lula no meio com a troca de Messias. O mesmo diagnóstico é feito pelo deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT-SP), próximo da Assembleia de Deus no ABC paulista, e por pastores que rejeitam ou demonstram simpatia com o atual governo. Procurada, Gleisi, que tem organizado reuniões com pastores e avaliado novas estratégias de aproximação com os evangélicos, não retornou.
O bispo Robson Rodovalho, líder da Sara Nossa Terra que criticou a prisão de Bolsonaro, é um dos que avaliam como positiva a ida de Messias ao STF. Para ele, o segmento “ganhou” com a decisão de Lula, ainda que ele seja de esquerda, e caberá à Frente Parlamentar Evangélica fazer a ponte com o Planalto a partir da saída.
— Ele tem toda a competência e é um cristão verdadeiro, um evangélico assumido que tem compromisso com nossas pautas. Vejo como algo extremamente positivo. O fato de ele ser petista é a história da vida dele — afirmou.
Já Samuel Ferreira afirma que Messias “é uma pessoa preparada” e que “defende costumes e pautas que são importantes para o país”, e elogiou medidas do governo Lula como a sanção da lei que estabeleceu que não existe vínculo empregatício entre igrejas e seus membros e da norma que proíbe o uso de linguagem neutra em eventos oficiais. Ele cita como nomes que podem seguir dialogando com o setor, além de Gleisi, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o cientista político Marco Aurélio Santana Ribeiro, que cuida da agenda de Lula.
— Messias, mesmo no STF, continuará sendo evangélico. Certamente, dentro do que for republicano e dentro da lei, continuará tendo muitos amigos evangélicos. Temos outras pessoas, como o senador Jaques Wagner, o ministro Padilha, a ministra Gleisi, que conversam muito bem conosco.
Sergio Dusilek, um dos pastores que se aproximaram do governo por rejeitarem o bolsonarismo, entende que Marina foi alvo de uma campanha negativa nas grandes igrejas, assim como Lula, e que Janja enfrenta uma barreira natural por não ser evangélica. Messias, assim, cumpre uma função difícil de ser replicada, ainda que Dusilek veja isso como uma oportunidade para o presidente desenvolver uma nova estratégia de comunicação, mais voltada para a base, e não para os líderes dos grandes templos.
Por
Hyndara Freitase
Samuel Limada redação FM

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