O Documento que Pode Reescrever a História de uma Crise
Existe um momento em que uma única folha de papel pode desmoronar narrativas inteiras. Foi exatamente isso que presenciei ao analisar a entrevista do vice-governador Sérgio Gonçalves ao jornalista Ivan Frazão. Quando ele apresentou aquele documento oficial, datado de 14 de junho às 11h45, senti que estava diante de uma peça que poderia reescrever completamente a história da maior crise política já vista no Executivo de Rondônia.
O que me chamou atenção não foi apenas o conteúdo do documento - uma solicitação formal de prorrogação da viagem do governador Marcos Rocha a Israel - mas a simplicidade devastadora da lógica apresentada por Gonçalves: "Como é que um vice-governador que pede a prorrogação da estadia do governador em Israel vai, dois dias depois, articular contra ele?"
A Cronologia que Não Se Sustenta
Ao reconstruir a timeline dos eventos, deparei-me com uma sequência que simplesmente não faz sentido se aceitarmos a versão que circulou pelos corredores do Palácio Rio Madeira:
- 6 a 14 de junho: Período autorizado para a missão em Israel
- 14 de junho (sexta-feira, 11h45): Vice assina documento pedindo prorrogação
- 16 de junho (segunda-feira): Suposta "articulação" durante votação na Assembleia
A contradição é gritante. Como alguém pode simultaneamente solicitar oficialmente a extensão de uma ausência e conspirar contra a pessoa ausente? É como acender uma vela e assoprar ao mesmo tempo.
Os Deputados Quebram o Silêncio
Mas há outro elemento que torna a narrativa da conspiração ainda mais frágil: o testemunho público de alguns deputados estaduais. Em entrevistas (Podcast) foram categóricos ao afirmar que Sérgio Gonçalves jamais os procurou para qualquer tipo de articulação contra o governador.
Mais revelador ainda: nenhum deputado confirma ter visto o vice-governador na Assembleia Legislativa no dia 16 de junho fazendo propostas golpistas. Pelo contrário, em suas declarações públicas, os parlamentares são unânimes em negar qualquer aproximação do vice-governador com essa finalidade.
Estes depoimentos, registrados representam um conjunto de evidências devastador para a versão da conspiração. Afinal, como é possível orquestrar um impeachment sem falar com os deputados que teriam que votá-lo?
O Que a Equipe "Esqueceu" de Mostrar
A frase mais reveladora da entrevista veio quando Gonçalves sugeriu que "a equipe do governador provavelmente esqueceu de mostrar esse documento para ele". Esta simples observação expõe algo muito mais grave que uma conspiração: a possibilidade de que decisões cruciais estejam sendo tomadas com base em informações incompletas ou deliberadamente omitidas.
Quantas outras crises políticas nascem não de conflitos reais, mas de falhas na comunicação interna? Quantas pontes são queimadas porque alguém "esqueceu" de mostrar um documento?
A Casa Civil no Centro do Furacão
Não posso ignorar a acusação direta de Sérgio Gonçalves contra a atual gestão da Casa Civil. Quando ele afirma que "existe uma ação em andamento para prejudicar o vice-governador e essa ação se origina na Casa Civil", está essencialmente dizendo que o núcleo administrativo do governo trabalha contra o próprio governo.
A mudança de comando na Casa Civil - com a saída de Júnior Gonçalves (irmão do vice) e entrada de Elias Rezende - parece ter criado um ambiente onde versões alternativas da realidade puderam florescer. É como se a troca de guarda tivesse permitido que uma nova narrativa fosse construída sobre os mesmos fatos.
O Desafio que Ninguém Aceita
O que mais me impressiona é a coragem de Sérgio Gonçalves em fazer um desafio público: apresentem qualquer evidência - print, gravação, documento - que comprove as acusações. É um movimento arriscado para alguém que estivesse mentindo. Mentirosos raramente pedem por mais escrutínio.
Este desafio, combinado com a apresentação do documento de prorrogação e as declarações públicas dos deputados negando qualquer contato, inverte completamente o ônus da prova. Agora não é mais Gonçalves que precisa provar sua inocência, mas seus acusadores que precisam sustentar suas alegações contra evidências documentais e testemunhais.
As 14 Vezes que Tudo Funcionou
Um detalhe que me chamou atenção foi quando Gonçalves mencionou ter ficado 14 vezes como governador em exercício, sempre "com o cuidado de que tudo corra bem e sem movimento brusco". Esta informação sugere um padrão de comportamento leal que torna ainda mais implausível a narrativa da conspiração.
Se houvesse intenções golpistas, por que esperar especificamente a 15ª oportunidade? Por que escolher justamente o momento em que o governador estava em uma missão oficial delicada? E, principalmente, por que não deixar rastros junto aos deputados que teriam sido essenciais para qualquer movimento de impeachment?
A Conspiração Sem Conspiradores
O mais absurdo desta história toda é que estamos diante de uma suposta conspiração sem conspiradores. O vice-governador nega categoricamente, os deputados negam publicamente em entrevistas e vídeos ter sido procurados, existe um documento oficial contradizendo a versão da articulação, e mesmo assim a narrativa do golpe continuou sendo alimentada.
É como se alguém tivesse gritado "fogo!" em um teatro vazio e todos continuassem correndo para as saídas, mesmo vendo que não há fumaça, não há chamas, não há sequer um fósforo aceso, e os próprios bombeiros confirmassem que nunca foram chamados.
O Poder do Testemunho Público
As declarações dos deputados em entrevistas e vídeos públicos adicionam uma camada extra de credibilidade à versão de Sérgio Gonçalves. Não se trata apenas da palavra de um contra outro, mas de múltiplas fontes independentes confirmando a mesma versão dos fatos.
Quando deputados se expõem publicamente para negar uma narrativa que não os compromete diretamente, isso demonstra um comprometimento com a verdade que transcende os jogos políticos habituais. Eles não tinham nada a ganhar ao desmentir a versão da conspiração, mas escolheram fazê-lo mesmo assim.
O Preço da Desinformação
O que mais me preocupa nesta história é como informações distorcidas podem ter consequências devastadoras. A crise entre governador e vice não afeta apenas egos políticos - impacta a governabilidade, a economia estadual e a confiança das instituições.
Quando Sérgio Gonçalves menciona que "não toma remédio para dormir", está dizendo que tem a consciência tranquila. Mas quantos rondonienses perderam o sono por causa de uma crise que pode ter sido construída sobre informações incompletas e testemunhas inexistentes?
A Verdade Documentada e Testemunhada
Se o documento apresentado por Sérgio Gonçalves é autêntico - e não há razão para duvidar de sua existência, dado que foi mencionado publicamente - e se os deputados realmente confirmam em entrevistas e vídeos que nunca foram procurados pelo vice-governador, então toda a narrativa da crise precisa ser revista.
Estamos diante de um caso raro na política: uma acusação desmentida simultaneamente por evidências documentais e testemunhais. Não se trata apenas de inocentar o vice-governador, mas de entender como chegamos a este ponto de desconexão entre fatos e narrativas.
A Verdade que Pode Reconciliar
A grande questão agora é se estes elementos convergentes - o documento oficial, os depoimentos públicos dos deputados, o histórico de lealdade do vice-governador - serão suficientes para promover uma reconciliação ou se os interesses que alimentaram a crise são maiores que a própria verdade.
Porque, no final das contas, documentos não mentem, deputados deram seus testemunhos públicos, mas pessoas podem escolher ignorar ambos em nome de narrativas que melhor servem a seus interesses.
Esta história me lembra que na política, como na vida, a versão que prevalece nem sempre é a mais verdadeira, mas a mais bem contada. Felizmente, às vezes um simples papel com carimbo oficial e o testemunho corajoso de quem deveria ter sido cúmplice podem ser mais eloquentes que mil discursos conspiratórios.
A conspiração do impeachment que nunca existiu pode ser o maior exemplo de como narrativas podem ganhar vida própria, mesmo quando todos os fatos - documentados e testemunhados - apontam na direção contrária.
DEIXO UMA PERGUNTA FINAL:
O Governador Marcos Rocha por ser cristão terá a humildade de perdir PERDÃO ao seu vice Sérgio Gonçalves ?
Sou Marcio Lu Senna e essa foi minha opinião!
segue anexado o documento: