Boeing 747-200 da British Airways que sofreu situação de emergência em 24 de junho de 1982; imagem foi feita em janeiro do mesmo ano — Foto: Gordon Bevan/Wikimedia Commons
Porto Velho, Rondônia - O transporte aéreo moderno é, estatisticamente, uma das formas mais seguras de deslocamento. Contudo, eventos excepcionais, como o ocorrido com o voo BA009 da British Airways, demonstram como fenômenos naturais ainda podem colocar em risco operações aéreas, especialmente quando não são suficientemente compreendidos ou monitorados.
O Incidente
O voo BA009 partiu de Londres (Reino Unido) com destino a Auckland (Nova Zelândia), realizando escalas em Bombaim, Kuala Lumpur, Perth e Melbourne. Na etapa entre Kuala Lumpur e Perth, sobrevoando o Oceano Índico próximo à ilha de Java, na Indonésia, a aeronave — um Boeing 747-200, então o maior avião de passageiros em operação — sofreu falha total de propulsão. Os quatro motores Rolls-Royce RB211 desligaram-se em sequência, forçando os pilotos a conduzir o avião em modo planador por cerca de 20 minutos.
A falha ocorreu após a entrada da aeronave em uma nuvem de cinzas emitida pela erupção do vulcão Galunggung, cuja atividade não havia sido devidamente reportada à aviação civil naquele momento. O comandante Eric Moody, com frieza notável, comunicou aos passageiros a perda de todos os motores, mantendo a calma e a disciplina da tripulação durante toda a emergência.
Análise Técnica
As cinzas vulcânicas são compostas por partículas finas de rocha e vidro, altamente abrasivas e secas, o que dificulta sua detecção por radares meteorológicos convencionais, projetados para identificar umidade. Quando ingeridas pelos motores a jato, essas partículas derretem a altas temperaturas e se fundem em superfícies internas, obstruindo o fluxo de ar e provocando a perda de empuxo.
As investigações conduzidas pela Rolls-Royce confirmaram que a interrupção do funcionamento dos motores foi causada pelo acúmulo de cinzas que, ao se fundirem, bloquearam os canais de fluxo de ar. Com a saída da aeronave da nuvem vulcânica e a redução da temperatura interna, parte desse material se desagregou, permitindo a retomada do funcionamento de três dos quatro motores.
Repercussões e Medidas Adotadas
O episódio levou a uma ampla revisão dos protocolos de segurança aérea relacionados à atividade vulcânica. Posteriormente, um voo da Singapore Airlines enfrentou situação similar na mesma região, o que reforçou a necessidade de vigilância permanente sobre vulcões ativos.
Desde então, foram estabelecidos Centros de Aviso de Cinzas Vulcânicas (VAACs - Volcanic Ash Advisory Centres), coordenados pela Organização de Aviação Civil Internacional (ICAO), responsáveis por monitorar e alertar companhias aéreas sobre emissões perigosas.
A atuação da tripulação foi amplamente reconhecida, sendo todos condecorados por suas decisões sob extrema pressão. Nenhuma fatalidade foi registrada, embora o risco tenha sido extremo. O caso tornou-se referência em manuais e treinamentos de segurança operacional em companhias aéreas de todo o mundo.
O incidente do voo British Airways 009 destacou vulnerabilidades então desconhecidas da aviação moderna e desencadeou avanços importantes na segurança operacional frente a fenômenos geológicos. Atualmente, o monitoramento de cinzas vulcânicas é parte essencial da navegação aérea, contribuindo para a prevenção de acidentes similares.
da redação FM