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Ser pobre em Rondônia é diferente; e como isso afeta a percepção sobre as pesquisas eleitorais e a preferência por Bolsonaro

Ser pobre em Rondônia é diferente; e como isso afeta a percepção sobre as pesquisas eleitorais e a preferência por Bolsonaro

 

De acordo com o IBGE, em 2021 Rondônia tinha 1,8 milhão de habitantes, destes, 27,02% estão na chamada “incidência da pobreza objetiva“, que é definida como a falta de acesso a serviços essenciais (saneamento básico, saúde, educação, energia elétrica, entre outros), bens de consumo, sobretudo alimentos, e bens materiais necessários para a manutenção da vida em condições básicas. É um número relativamente baixo em relação aos demais estados. Alagoas, por exemplo, tem 59,54% e a Paraíba, 57,48%. 

Rondônia é um estado com muita terra, muita água e pouca gente, e tem a menor concentração de desigualdade social e econômica das regiões Norte e Nordeste. Isso talvez explique a dificuldade que muitos que nascem no Estado, tenham em compreender o que de fato é miséria, passar fome, não ter condições sequer de plantar um pé de alface porque as terras em Rondônia são ricas e produtivas. Se jogar uma semente qualquer, ela vai brotar. O mesmo não podemos dizer de regiões como o Oeste baiano, a caatinga e o sertão, onde, por falta d’água, a população não consegue sequer criar uma galinha, pois o milho é caro demais.

Em Rondônia, a mentalidade de que ‘só passa fome quem quer’ é uma realidade. Empregos para mão de obra sem qualificação, como caseiro ou para carpir, tem de sobra, e se tudo der errado, a pessoa pode pescar o almoço ou jantar.

Essa falta de clareza sobre as condições de miséria também ajudam a explicar o forte apoio que Jair Bolsonaro, Marcos Rogério e outros que utilizam discursos simplistas, tem no Estado. Embalados pelo agronegócio, que não gera empregos de qualidade, mas sustenta o comércio, grande parte dos eleitores não consegue enxergar o buraco em que o Brasil está enfiado.


Sou nascido e criado em Rondônia, e conheço cada palmo do meu Estado. Do Brasil, conheço 20 dos 27 Estados, mas não de passagem, ou de descer em aeroporto e dizer que ‘estive lá’. Rodei de carro, me perdendo, parando em vilarejos onde a miséria grita, e as pessoas estão lá, pois não tem como sair. Ir para uma grande cidade ‘aventurar’ é quase sempre receita de fracasso, prisão, ser vítima de violência. Essas pessoas não têm acesso a internet, e quando tem, é limitada por conta de seus aparelhos de telefone precários.

De acordo com o próprio governo federal, um a cada cinco brasileiros não tem acesso a internet, que dirá ter conta em banco para receber auxílios. O fim do Bolsa Família representa a volta da miséria, aquela de passar fome, de uma mãe olhar para uma panela vazia e chorar por não ter nada a dar aos seus filhos. Essa realidade em Rondônia, felizmente não existe. 


Um estudo realizado pela Universidade Federal de Rondônia, em 2014 sobre o impacto social do programa Bolsa Família no município de Cacoal, mostrou que a maioria dos beneficiados são pessoas com pouca formação educacional, pois de acordo com os dados 90% não conseguiram concluir o ensino médio.

Dos entrevistados 31% não chegaram a completar o ensino fundamental, 25% possuem apenas o primário incompleto e 13% o ensino médio incompleto, ressaltando ainda que 7% são analfabetos. Isso mesmo, em Rondônia ainda existe analfabetismo.

CLIQUE AQUI para ver o estudo na íntegra.

Chama a atenção na pesquisa, que o principal motivo de não conclusão dos estudos é a gravidez. A maior parte dos entrevistados 57% tiveram seu primeiro filho entre 15 e 19 anos e 28% entre 19 e 24 anos de idade, ressaltando ainda que 5% tiveram seu primeiro filho abaixo dos 14 anos, confirmando o maior número de beneficiárias mães antes mesmo de se tornarem adultas.


Vale lembrar que essa pesquisa se refere apenas à Cacoal.


O estudo mostra que as razões da pobreza em Rondônia diferem, por exemplo, do Piauí. Em 2014, Dilma Rousseff obteve seu melhor resultado proporcional no primeiro turno: 70,6% dos votos, ante 14% de Marina Silva e 13,8% de Aécio Neves (o inconformado). Por lá, os motivos iam muito além da Bolsa Família, e a população lembra (e quer de volta) Lula e o PT. Em 2014, a BBC fez uma reportagem sobre o que havia mudado para aquela população.

No caso da pesquisa de Rondônia, ela é ampla mas não é nosso foco. A questão é que ela ajuda a compreender, por exemplo, a dificuldade que a população do estado tem em acreditar nas pesquisas eleitorais de abrangência nacional.


O Brasil é muito diferente de Rondônia. Nas principais capitais do país, famílias inteiras estão vivendo em barracas, nas calçadas, parques, embaixo de viadutos. Os índices de criminalidade dispararam, assim como golpes e outras fraudes. A inflação consome praticamente todo o poder de compra do Real, e nem vamos falar sobre o preço dos combustíveis. A situação está grave, praticamente de volta aos anos 80, por conta do desmonte das políticas públicas que está em andamento desde 2016. 

E não, a culpa não é dos governadores, ICMS, guerra na Ucrânia ou qualquer outra pataquada alegada por Paulo Guedes e sua equipe neoliberal. A responsabilidade é do governo federal, é ele quem dita as políticas econômicas e sociais. Querer dividir ou responsabilizar quem quer que seja é assinar atestado de incompetência e incapacidade. Seja franco, o que Bolsonaro fez por esse país desde que assumiu a Presidência, que não seja tumultos, brigas, teatro e ameaças golpistas?


Os que antes eram pobres agora são miseráveis, e a classe média está na pobreza. O retrato disso é visto nos carrinhos de supermercado diariamente. 

É por isso que todas as pesquisas indicam que Lula está na liderança e deve ser eleito em outubro, querendo ou não os rondonienses. Essas sondagens são financiadas por grupos que não se importam com quem é o presidente, e sim para que rumo a economia vai seguir. Lula e Ciro tem projetos claros de governo, já Bolsonaro continua com sua tática de desacreditar instituições, tumultuar o processo democrático e difamar autoridades e políticos.


A vida no Brasil e em Rondônia pode ser melhor, e será, assim que esse acidente eleitoral seja apeado do Planalto.



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